segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Catador

Manoel de Barros
a
Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais – o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
Pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
a

2 comentários:

  1. Aragão, que preciosidade... o Léo é que me indicou. Parabéns!

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  2. Obrigado, Danilo!
    Estamos juntos nessa caminhada e fico aguardando as poesias de vocês para a gente postar aqui. O espaço é nosso.
    Abração na turma toda!

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